segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Memórias de um romance sem lembranças - Parte I


Despertador toca e a velha mania de mais cinco minutinhos de sono para poder despertar de verdade. Ao levantar, recomendado pelo médico, vai direto a cozinha preparar algo para comer, pois sempre que não comia pelas manhãs tinha ânsias de vomito e ataques de tremedeiras. Ao termino do café, escova seus dentes, sempre com sessenta e cinco escovadas, depois o inseparável fio dental, para só então o flúor, tudo cronometrado para não se atrasar. Um banho de cinco minutos sempre era o suficiente, se arrumava sem delongas para só então seguir seu caminho ao ponto de ônibus, tinha condições para um carro, porém seu psiquiatra o aconselhara a meios públicos para melhor relação e interação com as pessoas.
Um dia comum, mais um da intensa rotina e correria que era a vida de Luiz Fernando. Homem trabalhador, sem ambições e com uma vida que muitos taxavam de sem graça, mas isso até aquele dia que parecia ser igual a todos os antecessores.
No trabalho o de costume, esporros e mais esporros de seu tirânico chefe, era o motivo de chacota dos amigos e ainda por cima tinha uma namorada, que conhecera por um bate-papo na internet, mas nunca havia se encontrado, nem visto pessoalmente.
Nossa história começa no horário do almoço, pois foi nesse intervalo, que resolveu fazer algo diferente, algo novo, algo que quebrasse aquela monotonia. Partiu em direção ao restaurante japonês que sempre teve vontade de conhecer, mesmo não sendo um grande apreciador da culinária nipônica.
Chegando à porta, bateu aquele nervosismo, excitação, afinal era a primeira vez em anos que não iria comer na cantina da empresa. Estava decidido a tentar o inédito e logo se acomodou numa mesa pedindo o cardápio, a cada prato uma certeza, nunca tinha ouvido falar naqueles estranhos nomes e se espantou ao ver que cone era mesmo um cone cheio de comida.
Pediu um combinado, sete sushis, um creme viscoso e uma espécie de grama sintética comestível. Para não parecer leigo, começou pela tal grama, afinal num almoço se começa pela salada, passava o matinho estranho no creme viscoso e comia, contudo o raio do creme era pior que pimenta, os olhos lacrimejavam, ele evitando fazer careta para não chamar a atenção, mesmo com sua boca pegando fogo. Todavia já era tarde, pois ouvia risadas e mais risadas de algum babaca sem ter o que fazer.
Indignado, olhou discretamente para todos os lados, quando viu o malandro, ou malandra, pois naquele momento avistou a coisa mais linda que Deus havia lhe apresentado. Uma bela dama, com um sorriso largo e espontâneo, parecia enfeitiçado por aquele ser e sem notar olhava fixamente para ela com a cara mais bocó possível, sem disfarçar.
A moça diminuía as gargalhadas, notara que o comico rapaz a encarava sério, sem piscar ou demonstrando qualquer expressão facial. Sem graça cumprimentou-o com um singelo aceno, mas ele parecia paralisado. Ao pigarrear seguidas vezes conseguiu trazer de volta a consciência do homem estranho, que sem saber o que dizer ou fazer diante daquela constrangedora situação, a chamou para almoçar juntos. Ela interessada, aceitou o convite e o cobriu com simpatia e personalidade.
Luiz, pela primeira vez na vida havia se apaixonado, aquela mulher desinibida, cheia de histórias e experiências que ele achava ser só possível em filmes. As horas passavam, mas ele não cansava de ouvir aquela linda mulher, desligou o celular para ninguém atrapalhar aquele momento único em sua vida.
Ela que gostava de falar, ficou encantada com o jeitinho inocente e puro com que a olhava, a atenção que ele dava e a cada volta do ponteiro se sentia mais especial diante daquele nerd com seus oito graus e meio em cada olho e uma lupa no lugar das lentes dos óculos.


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